As Portas do Céu se abriram hoje para nós
A Glória de Deus transparece
Ao comentar ao afresco de Giotto, Dr. Plinio nos convida a abrir a alma para o esplendor que Deus manifesta no Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo:
Neste famoso afresco de Giotto temos a representação da cena do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo, por São João Batista.
No Antigo Testamento, o batismo se dava à maneira de um banho. Devido a essa circunstância, o Divino Redentor é apresentado com uma parte do tronco desnuda.
Nota-se no afresco uma situação paradoxal: normalmente, a grande figura na cerimônia do batismo é o sacerdote que confere o sacramento. O neófito é uma figura secundária.
Entretanto, Nosso Senhor é apresentado por Giotto — embora sem nenhum atributo da realeza, pois está com o busto desnudo — com tal seriedade, tranquilidade e majestade divina, que figura como o centro da cerimônia, como é próprio a um verdadeiro Rei e Senhor.
Por outro lado, São João Batista, apesar de toda sua grandeza, é apresentado numa atitude segura, mas respeitosa e até um pouco inclinado, enquanto no Céu chamejam raios e luzes. Com isso, o artista desejou deixar transparecer a glória de Deus.
A voz de Deus hoje nos declara seus filhos
São Tomás de Aquino nos abre os olhos para as grandes graças que foram conquistadas no dia do Batismo de Jesus:
“O Espírito Santo desceu sobre Jesus batizado e fez-se ouvir a voz do Pai que dizia: Este é ‘meu Filho amado; para nos dar a conhecer, pelo que se cumpriu em Cristo, que quando formos lavados na água do batismo, das portas do céu o Espírito Santo desce sobre nós e a voz do Pai nos declara seus filhos adotivos”. (São Tomás de Aquino; Suma Teológica 3, 39, 8).
“Cristo quis batizar-se para consagrar, com o seu batismo o que nós devíamos receber. Por isso o batismo de Cristo devia manifestar o que constitui a eficácia do nosso. (…) no batismo de Cristo, o céu se abriu para mostrar como, no futuro, a virtude celeste santificaria o batismo”. (São Tomás de Aquino; Suma Teológica 3, 39, 5)
Quem era São João Batista?
Que graças podemos pedir a Nossa Senhora ao considerarmos quem foi o varão escolhido para batizar a Jesus? Veja o que aconselha Dr. Plinio:
A vida e missão profética de São João Batista, marcadas pela vigorosa personalidade do Precursor, teve um início que nos enche de admiração e enlevo, por nele estar envolvida a própria Mãe de Deus. (…) Esse início deu-se no encontro entre Nossa Senhora e Santa Isabel, quando brotou dos lábios da Virgem Maria o hino Magnificat.
Nossa Senhora falou, e um frêmito de contentamento percorreu o frágil corpo do menino no claustro materno. Por quê?
Podemos conjecturar que Nossa Senhora comunicou, de um modo misterioso, algo do espírito d’Ela a São João Batista. (…)
Desse fato maravilhoso decorre uma importante aplicação para nossa vida espiritual. Pois nele discernimos o poder insondável de Nossa Senhora como Medianeira de todas as graças e onipotência suplicante em nosso favor. O eco da voz d’Ela santificou um homem de um momento para outro, infundiu-lhe um grau eminente de perfeição moral.
Ora, isso é o que devemos esperar que a Santíssima Virgem obtenha para cada um de nós.
Peçamos a Ela, com inteira confiança, que fale no íntimo de nossa alma, e que esse timbre imaculado nos santifique de um instante para outro, concedendo-nos uma virtude que anos de lutas e de trabalhos não nos proporcionaram.
Por isso, todo aquele que tenha algum desânimo, tristeza ou perplexidade na vida espiritual, pode fazer sua a prece que a liturgia tomou das palavras do centurião a Jesus, e dirigir-se a Maria Santíssima: “Senhora, eu não sou digno de ouvir a vossa voz, mas dizei uma só palavra e a minha alma será transformada, se Vós assim o quiserdes”.
Portanto, devemos desejar que a voz de Nossa Senhora nos toque a alma e a faça estremecer de júbilo, como o fez com a alma de São João Batista.