Ter a própria alma nas mãos!
“Sempre teve a sua alma nas mãos”, é a curta frase inscrita, em latim, na pedra tumular de Santo Antônio Galvão, na Igreja do Mosteiro da Luz, atestando seu altíssimo grau de virtude. São poucas palavras, mas definem o sentido de toda uma vida:
Aqui jaz Frei Antonio de Sant’Anna Galvão, ínclito Fundador e Diretor desta nobre casa, que tendo sempre nas mãos a sua alma, adormeceu no Senhor em 23 de Dezembro do ano de 1822
Abaixo você poderá percorrer alguns dos episódios da vida do Santo Frei Galvão que constam num pequeno livro que foi elaborado pela Campanha Vinde Nossa Senhora de Fátima, não tardeis! na ocasião de sua canonização.
A Divina Providência, ao longo dos tempos, visita as almas através das vidas dos Santos, com bons exemplos, virtudes, prodígios e maravilhas.
E hoje, você também está recebendo essa visita…
Abra seu coração! Deixe que a graça fale no seu interior.
E permita que a luz da graça envolva sua alma que te chama a crescer na Fé e na Confiança ao contemplar a vida desse grande Santo que viveu em nosso Brasil.
Meu filho a deu? Está bem dada...
Dona Isabel, boa e zelosa mãe de Frei Galvão, percebeu desde cedo as boas tendências e belas disposições de alma de seu filho Antônio. Ela, então, não perdia nenhuma oportunidade de dar-lhe bom exemplo e inculcar nele as virtudes cristãs. E o menino aceitava e logo aplicava as lições recebidas de sua mãe.
Especialmente, o desvelo de Dona Isabel se voltava para os necessitados de alguma ajuda e, por isso, mandava o pequeno Antônio dar esmolas aos pobres.
Certo dia, uma senhora bateu à porta de casa e pediu uma esmola pelo amor de Deus. Antônio estava sozinho, porém, não teve dúvidas: entrou nos aposentos de sua mãe, pegou uma linda toalha de crivo e, sem hesitação e certo de que estava aplicando as boas lições de amor ao próximo que sua mãe lhe dava, deu para a pobre mulher aquela preciosa alfaia.
Evidentemente a senhora ficou muito feliz com aquele lindo presente que não contava, de modo algum, receber.
No entanto, pouco tempo depois, a pobre mulher que tinha uma boa e limpa consciência, inquietou-se pensando que Dona Isabel talvez não tivesse querido doar-lhe tão rica toalha e que ela havia enganado uma criança.
Ela, então, voltou até a casa do Senhor Antônio Galvão e Dona Isabel para devolver a esmola que julgava demasiada.
Só aí que Dona Isabel ficou a par do ocorrido. Sem demonstrar nenhuma estranheza e sem querer matar as boas disposições que já floresciam na alma do menino, apenas disse sorrindo para a mulher:
— Meu filho a deu? Está bem dada…
Expulsando os demônios dos corações
Aos 21 anos de idade, Frei Galvão estava certo de seu chamado para servir a Deus por toda vida. Despediu-se de seu querido pai, dos irmãos e todos seus familiares e partiu rumo ao Convento de São
Boaventura de Macacu, na Vila de Santo Antônio de Sá, na capitania do Rio de Janeiro.
O ainda jovem Antônio, mesmo nos trabalhos mais humildes, conseguia elevar seus pensamentos para as grandezas de um Deus plenamente misericordioso.
Certa feita, ele fazia a limpeza do Convento e, enquanto suas mãos manuseavam a vassoura, seu pensamento voava para os céus. Alguém pôde ouvir e registrar as reflexões que, nascidas em seu coração, brotavam em seus lábios:
— Oh! Senhor, como sois bom e suave para os que desejam amar-Vos! Mais vale um dia em vossa casa do que mil outros longe dela.
“Senhor meu, que todos Vos sirvam e Vos amem e que vossos inimigos desapareçam como este pó que se perde no ar…
“Quando chegará, Senhor, o dia em que poderei lançar para fora dos corações a maldita serpente que vos rouba tantas almas?”
Estava ele com seu espírito de tal modo colocado nas coisas celestes que acompanhou suas reflexões com uma valente e forte vassourada, sem que se desse conta que ali se encontravam seus companheiros de vocação. Estes, diante dessa inopinada atitude de entusiasmo, dão um passo para trás, exclamando estupefatos:
— Oh, Frei Antônio, estais a nos lançar terra nos olhos!
Sem pestanejar, ele responde sorrindo:
— Perdoem-me, Irmãos, estava varrendo o demônio para fora dos corações…
Um dos noviços lhe responde:
— Com tanta força acabarás por lançar fora toda uma legião de demônios.
E outro redargüiu:
— Que os anjos digam amém!
Pílulas
Dona Gertrudes, desde que sentiu a sua gravidez, passou a rezar especialmente a Frei Galvão. Entretanto, chegado o tempo de dar à luz, ela começou a sofrer tremendas cólicas.
Procurou médicos, mas a medicina da época quase nada poderia fazer para aliviá-la das dores.
Naquela difícil emergência, ela pediu que a levassem às pressas ao Convento da Luz.
Procurou Frei Galvão que, inspirado, “lembrou-se novamente do versículo do Ofício de Nossa Senhora e escreveu em uma tira de papel: “Post partum Virgo inviolata permansisti; Dei Genitrix intercede pro nobis”, enrolou-a, dividiu-a em pequenas pílulas e as deu para
Dona Gertrudes, que, depois de tomá-las, sentiu um alívio imediato das cólicas.”
Inteiramente curada, alguns dias depois deu à luz uma criança linda e sadia.
Os pedidos de pílulas passaram a ser muito freqüentes.
Frei Galvão ensinou as irmãs do Recolhimento a fazê-las e autorizou que, mesmo em sua ausência, elas pudessem ser distribuídas na portaria do Recolhimento.
No início, as pílulas eram procuradas sobretudo pelas senhoras parturientes.
Com o tempo, porém, começaram a ser usadas para a cura de outras doenças, especialmente problemas renais, e… mesmo para conversão de pecadores.
Atualmente, as pílulas são procuradas por todo o tipo de pessoas que nas doenças corporais ou espirituais e nas dificuldades e infortúnios de toda espécie invocam a intercessão de São Frei Galvão e são atendidas.
As “pedrinhas de Frei Galvão”
Assim que o corpo de Frei Galvão foi descido à cova, iniciou-se logo a construção da sepultura. Mesmo enquanto ela estava sendo edificada, várias pessoas ficavam por perto, rezando e pedindo a intercessão do santo.
Ainda semi-terminada, era mais que normal que alguma porção da argamassa restasse solta, junto da sepultura.
Uma senhora que ali rezava, vendo que o cimento que cobria a lápide tinha umas pedrinhas soltas, teve a idéia de tirar uma pequena lasca.
Este gesto foi suficiente para que outras pessoas que ali estavam começassem a imitá-la.
Daí para a frente, os devotos que vinham rezar junto à sepultura de nosso santo, piedosa e confiantemente, começaram a recolher dela lascas de cimento ou pequenas pedras para levá-las consigo.
Era tal a quantidade de “pedrinhas” que os fiéis recolhiam da sepultura que em pouco tempo houve a necessidade de ser refeita a parte de alvenaria que a cobria.
Os pedaços de argamassa ou lascas de pedras tiradas da lápide que cobria o túmulo deram, assim, origem à devoção das milagrosas “pedrinhas de Frei Galvão”.
Os devotos as guardavam com devoção e esperançosos tocavam com elas em doentes ou as colocavam em copos ou jarras com água que depois era bebida.
Porém, seguindo os conselhos que sempre tinha dado Frei Galvão, nunca se esqueciam também de rezar a Nossa Senhora pedindo auxílio e intercessão daquela que é a Saúde dos Enfermos e Consoladora dos Aflitos.
E fatos extraordinários ou milagrosos multiplicaram-se ao longo dos anos, sempre a partir da respeitosa devoção às relíquias indiretas de nosso santo, conhecidas por todos, simplesmente, como “pedrinhas de Frei Galvão.
O Lenço de Frei Galvão
Um certo homem muito conhecido na cidade de Taubaté caiu gravemente enfermo.
Seus parentes e amigos temiam que acontecesse o pior e, por isso, deram-lhe toda assistência médica disponível na época.
Não descuidaram também da alma do paciente. A vida que o tal homem levava deixava muito a desejar, sendo natural que todos ficassem apreensivos quanto a seu destino eterno.
Alguém mais chegado a ele foi, então, aconselhá-lo a confessar-se, a fim de que se preparasse para o encontro com Deus que parecia estar próximo.
O bem intencionado conselheiro, no entanto, ouviu o pobre homem dizer:
— Eu já me confessei! Confessei-me com Frei Galvão que aqui esteve me atendendo. Já estou preparado para encontrar-me com Deus.
Ninguém acreditou no que dizia o moribundo. Seria já uma alucinação, precedendo a hora da morte?
E, naturalmente falando tinham razão para duvidar do doente: Frei Galvão estava em São Paulo e havia bastante tempo que não visitava Taubaté.
Os parentes, vendo que a doença progredia rapidamente, voltaram a falar com o enfermo:
— Seria bom confessar-se, Senhor Fulano. No estado em que o senhor se encontra, confessar-se é uma graça extraordinária. É uma preparação para o encontro com Deus…
O paciente, no entanto, dando mostras de estar muito seguro de si, insistia em afirmar que já havia se confessado com Frei Galvão.
Pelas expressões fisionômicas e olhares dos circunstantes, o homem percebia que ninguém acreditava nele.
Foi então que olhando sério e profundamente para o mais insistente de seus conselheiros, disse:
— Não credes no que digo? Pois bem, aqui está a prova…
Convicto, ele tirou então debaixo do travesseiro um lenço e o mostrou a todos afirmando:
— Frei Galvão aqui esteve recentemente, preparou-me e atendeu-me em confissão. Ao retirar-se esqueceu seu lenço que aqui está provando sua vinda!
Ninguém mais duvidou que Frei Galvão lá estivera. Já então seu dom de bilocação era tido como certo em toda a Capitania de São Paulo.
Os numerosos milagres realizados por Frei Galvão, em vida, mostram como era grande o desejo do humilde franciscano de fazer o bem ao próximo.
A tal ponto que Deus lhe concedeu o carisma de dominar certas leis da natureza, para que seu apostolado fosse mais amplo e eficaz. Esse desejo de auxiliar seus irmãos não diminuiu com sua passagem desta vida para a eternidade.
Pelo contrário aumentou, sendo mais vasto seu campo de ação.
Esta seleção de edificantes fatos aqui apresentados ao leitor sirva, pois, para lhe aumentar a confiança no auxílio divino, pela intercessão de Santo Antônio Galvão.
Ele que em tantas circunstâncias de sua vida operou milagres em favor daqueles que invocavam sua poderosa ajuda, não deixará de continuar a realizá-los, agora, do Céu, para beneficiar aqueles que com fé pedem sua intercessão e procuram imitar suas grandes virtudes, especialmente a devoção a Maria Santíssima.