Os Reis Magos e a fidelidade à voz da graça
Mensageiros do Maravilhoso
Guiados por uma estrela, nimbados de uma atmosfera de esplendor extraordinária, os três Reis Magos eram almas particularmente preparadas pela Providência para se abrirem ao maravilhoso que Nosso Senhor Jesus Cristo trazia ao mundo.
Quiçá terão recebido graças especiais junto ao Divino Infante para anteverem tudo quanto de belo e magnífico a Igreja e a Cristandade realizariam ao longo da História. E terão retornado aos seus respectivos povos para irradiar entre eles esse desejo de maravilhoso, predispondo-os assim para a futura evangelização dos Apóstolos e seus sucessores.
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Preparando as almas...
Creio que deveria ser essa a missão essencial dos três Reis Magos: preparar seus reinos para a vinda dos Apóstolos ou de seus sucessores.
De maneira que quando esses lá chegassem, a população estivesse aberta para acolher sua pregação, e os portadores da palavra de Cristo recebessem uma formidável confirmação na Fé, porque lá encontravam os traços dos Reis Magos.
Quando encontraram a Sagrada Família, imagino que o Menino Jesus, por mais que já soubesse falar — Ele é a Sabedoria Encarnada! —, não conversou com os monarcas. Mas, por meio de graças interiores, Ele deve ter tornado mais ou menos presente aos reis magos tudo quanto a Cristandade faria de belo na humanidade, com a promessa de que nas regiões deles isso se realizaria, se seus povos fossem fiéis.
Representados pelo pincel de Giotto
Embora a Escritura empregue apenas o termo “magos”, segundo a tradição eles eram reis magos. Trata-se de uma tradição tão bonita que deve exprimir a verdade, pois geralmente a mentira não inventa coisas lindas.
Por isso, nesse afresco de Giotto vemos esses dois reis em pé, atrás, com coroa ou um diadema cingindo a cabeça. Eles vêm trazendo os seus presentes, recebidos pelo Menino Jesus no colo de Nossa Senhora, que está sentada numa espécie de troneto sobre um estradozinho ricamente atapetado. Ela mesma está também ricamente vestida. Para receber reis tinha que Se vestir com aparato.
Mais adiante há uma tribunazinha onde estão vários personagens santos; nota-se isso pelas auréolas. Atrás de Nossa Senhora há um Anjo e São José.
É interessante o seguinte: um dos reis está adorando o Menino Jesus e osculando os pés d’Ele. Os dois outros monarcas estão tranquilos, comprazidos em oração diante de Nossa Senhora e de seu Divino Filho, vendo o seu companheiro de viagem, seu irmão na realeza, adorar assim o Menino.
Estão contentes com tudo e esperam chegar a vez deles, sem impaciência, com essa tranquilidade, serenidade medieval que exprimia bem a presença, o espírito, a graça de Deus na alma desses personagens.
Fiéis à voz interior da graça...
Baltasar, Gaspar e Melchior eram, por certo, almas escolhidas e muito propensas ao maravilhoso, a ponto de se deixarem conduzir por uma estrela. Por isso suas pessoas aparecem nimbadas de uma atmosfera extraordinária, irradiando esse maravilhoso para o qual devem ter preparado seus pequenos reinos.
Sem dúvida, os Reis Magos foram objeto das orações de Nossa Senhora e de São José junto ao Divino Infante para o cumprimento de sua bela missão que ultrapassou os limites do tempo e do espaço, estendendo-se a toda a História.
Procedentes de diversas raças, prefiguravam eles todos os povos que viriam adorar o Salvador. Por essa razão, os episódios históricos por eles vividos:
— a visão da estrela no Oriente; o encontro com Herodes;
— a insegurança deste rei iníquo e, com ele, de toda a cidade de Jerusalém;
— a alegria ao reavistarem a estrela;
— a adoração feita ao Menino, junto a Maria, sua Mãe;
— a oferenda de ouro, incenso e mirra;
— e o aviso recebido, em sonho, para voltarem por outro caminho, estavam envoltos em aspectos simbólicos que indicavam terem os Magos recebido de Deus uma autêntica e misteriosa delegação:
Representar as nações que, no futuro, se abririam à influência da Santa Igreja Católica.
E seguir o chamado até o fim.
Tendo a estrela se levantado sobre o Oriente, os três Magos, cujo coração se tinham aberto à espera do Messias, sentiram antes de tudo a impressão de amor que os levava a Ele.
Eles receberam a nova da alegre vinda do Rei dos Judeus de um modo místico e silencioso, diferente dos pastores de Belém aos quais a voz de um Anjo convidou para irem ao Presépio. Mas a linguagem muda da estrela é explicada em seus corações pela ação do Pai Celeste que lhes revelava seu Filho.
Os Magos, falando a Herodes, exprimiram a simplicidade de sua empresa: “Nós vimos sua estrela e viemos para adorá-Lo”. Esses reis dóceis deixam, portanto, de um momento para outro, sua pátria, suas riquezas, seu repouso para caminharem em seguimento de uma estrela que os conduzia a um ponto de chegada por eles ignorado.
Herodes se agita em seu leito e prepara um projeto de carnificina. Já é tempo de os Magos deixarem Jerusalém, a cidade infiel, que já recebera por sua presença o anúncio. A estrela aparece no céu e os reis decidem tomar novamente seu caminho. Mais alguns passos eles estarão em Belém, aos pés do Rei que eles vieram procurar.
Peçamos aos Reis Magos que orem por nós para que também nós sigamos de como eles ouvirmos a voz da graça e seguirmos a estrela. E dizermos sim ao convite de Deus, com toda retidão, constância e pontualidade.
Para os Reis Magos a hora consoladora foi aquela em que contemplaram o Divino Infante nos braços de Maria Santíssima.
Também para nós chegará um momento no qual uma estrela nos dirá que a hora esperada chegou!
Essa estrela resplandeceu através das palavras da Santíssima Virgem em Fátima e nos conclama à confiança invencível na vitória de Maria: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”